|
Reginaldo Rossi. |
Reginaldo Rossi dizia que um grande cantor só existia se tivesse por trás uma grande banda. Fazia questão de chamar a atenção para os músicos e manter a equipe unida e por perto. Dividia o camarim e remunerava com o mesmo salário. “Às vezes, a gente arengava, mas logo fazia as pazes. Era como uma família”, diz Lamparina. O Rei não era de discutir, apesar de exigir da equipe a dedicação com que se entregava aos palcos. “Era um grande amigo. Em 25 anos, só brigamos duas vezes. Ele deixa lição de determinação, profissionalismo e amizade”, conta o empresário, Sandro Nóbrega.
A espontaneidade do palco se estendia ao camarim. Com Rossi, não tinha ensaio nem roteiro. Era como se a programação quebrasse o encanto da simplicidade do Rei do Brega, morto na última sexta-feira (20). “No show, não sei o que vou cantar. Faço sinal para a banda. Quatro para baixo é Fá Menor, posso cantar Hello, is it me you’re looking for?/ I can see it in your eyesou Eu hoje quebro esta mesa/ se o meu amor não chegar. Cinco para cima é Sol Maior. Eu posso cantar Sol, se o dia é de sol ou When I find myself in times of trouble", explicou, certa vez, em entrevista ao Viver.
Os códigos eram a única combinação com os cinco integrantes da banda - Edmilson, o Macaquito (bateria), Ernesto Praça (trompete), Binno Batista (baixista), Marcílio Alves (teclado) e Jorge Silva (guitarra) - e os três técnicos - Aderbal (técnico de palco), Roberto (técnico de PA) e Júnior Lima, o Lamparina (iluminador). “Em quatro anos, eu nunca ensaiei. No começo, é difícil. Mas, depois, até fica mais fácil. Ele nunca seguia repertório”, conta Marcílio Alves, o novato, há quatro anos no grupo.
A perda do Rei deixa saudades no grupo. E incertezas. No dia 23 de novembro, depois do show em João Pessoa, Rossi perdeu o equilíbrio e foi segurado por Macaquito. “Vá ao médico, patrão. A gente depende do senhor”, confidenciou o baterista do Rei há mais de 30 anos, hoje sem emprego. O guitarrista Jorge Silva já recebeu convites, mas ainda não se sentiu à vontade para aceitar.
O trompetista Ernesto Praça decidiu largar a música e se dedicar à gráfica que mantém. “Ele dizia: ‘em tudo que fizer, procure dar o melhor’. Rossi tinha formação erudita, tocava piano, lia partitura, entendia música. Eu comentava que não parei antes porque era Reginaldo Rossi. Posso até tocar profissionalmente de vez em quando, mas não como antes”, diz. Eles têm programado um tributo ao Rei, provavelmente no Manhattan Café-Theatro, em Boa Viagem, ainda sem data. Renato Campelo e Silvério Pessoa estão entre cotados para cantar.
Os músicos
Macaquito (Edmilson)
baterista, 58 anos, 39 na banda
Rossi conheceu Edmilson quando ainda tomava Montilla com Coca-Cola, depois substituído por uísque. “Meu pai tinha um cabaré na Rio Branco. Ele me viu tocando e me convidou. Era vaidoso, estilo Elvis, cabelo estiradinho. Depois, relaxou”, diz. O apelido Macaquito vem do Rei. “Sou muito alegre, brinco, danço, faço palhaçada, imito cantores. Estávamos em um circo e ele disse que eu parecia um macaquito. Aí, ficou”.
Ernesto Paula, 54
trompetista, 29 anos na banda de Rossi
Nos shows fechados, Rossi gostava de ouvir ao trompete Summertime. Foi como Ernesto prestou a última homenagem, em frente ao caixão, no sábado. “O nosso camarim sempre foi uma festa. O último show de Reginaldo foi o sepultamento dele. O nosso povo fez a festa, mesmo com saudades”.
Binno Batista, 40
baixista, 12 anos na banda
Rossi descobriu que Binno era cantor. Perguntou se conhecia Mal-acostumado, da Araketu, e pediu-lhe para tocar em churrasco. “Passei a cantar nos shows. Era a hora de fumar o cigarrinho, tomar uma dose, dar uma respirada”. O Rei gravou duas faixas (Leviana e Lua de mel) do DVD dele, Recordando em casa,inédito.
Jorge Silva, 57
guitarrista, 12 anos na banda
Fã do Rei desde os Silver Jets, assistia aos ensaios da banda em Casa Amarela. Sempre gostei das músicas dele. Eu lhe devo muito a ele. “Com Reginaldo, fui a Angola, Estados Unidos, França, Guiana Francesa, Venezuela. Estou construindo uma casa e ele sempre me ajudou. Sempre chegava junto”.
Marcílio Alves, 55
tecladista, quatro anos de banda
Marcílio Alves conta que Rossi conversava muito, mas, nas viagens, ficava calado. Sentava nas últimas poltronas do avião e dormia antes de decolar. “Os quatro anos foram aprendizado, porque ele acreditou e mostrou a importância da música dele. Tinha horas em que parecia ter mais fôlego que a gente”.